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AMOR SELVAGEM

CONHECIMENTO BRUTO

À MÃO (LIVRE)

Entre um espaço e outro há sempre um terceiro

As pessoas acham que essa casa demorou muito para ficar pronta. 7 anos no processo. Alguns filósofos das ciências holísticas e exotéricas ainda acreditam que é impossível ter um bebê em menos de 9 meses (bem, eles ainda estão trabalhando em outras formas). Uma casa, se for para ser realmente projetada pouco a pouco, quarto a quarto, janela a janela, canto a canto... projetada passionalmente em cada detalhe, ao ponto que isso se torne um trabalho de arte em si mesmo (se arquitetura viesse a ser um dia reconhecida como arte), tem que ser construída em, no mínimo, 29 anos. A villa urbana do Ara em São Paulo foi feita em tempo recorde. Nós estamos ainda impressionados pela rapidez em que ela foi feita. Esse é um objeto digno ao dito de Curzio Malaparte: “Uma casa como eu”. Esse “eu” aqui é esse personagem misterioso entre o que projeta e o que solicita o projeto. Eles são, ambos, os dois lados da arte contrastante do projeto colaborativo (nós iríamos mais longe, dizendo que existiriam múltiplos outros no meio, muitos outros autores, de distantes aparições fantasmagóricas de mestres modernistas do passado até membros familiares do dia-a-dia – figuras muito teimosas).

Em certo ponto, nós decidimos desenhar a casa em torno de uma cópia do bar americano projetado por Loos a cem anos atrás (ou deveríamos só reconstruir a Casa de Baile de Niemeyer ao invés do bar de Loos?). Depois desse Steiner-septênio, o bar desapareceu do invisível, nunca a ser encontrado vazio em seu centro, mas deixou o inteiro castelo ser construído ao seu redor. Soa como um método, mas não foi seguido como um caminho traçado de antemão pelos antigos mestres. Quem vê essa casa hoje não consegue rastrear sob qual clara referência, sob qual clara escola ou sob qual clara fonte ela foi forjada. Parece, às vezes, como se tivéssemos perdido o controle e deixado um palimpsesto tomar o comando. Copiar-e-colar não é um jogo fácil de se jogar, mas alguns acadêmicos acreditam que não há outra forma da arquitetura se resolver. Alguns vanguardistas estão tentando abordagens não-referenciais ou paramétricas. Nós optamos por uma técnica baseada na literatura, indo de forma mais complexa quando o problema requeria simplicidade e indo ultra simples quando o problema era de extrema complexidade. Não, isso não é um irônico mea-culpa, isso é só honestidade brutal. Nós trabalhamos dessa forma. Seja brutal, seja honesto (o que significa ironia e mea-culpa o tempo todo, em cada etapa do caminho).

Em outras palavras: nós fomos por um caminho entre o Plan libre e o Raumplan. Esse é o século XXI, não é? Alguns transeuntes acreditavam que a casa era a mais feia em uma rua famosa por ter outras obras primas. Abelardo de Souza, Tito Lívio, Marcio Kogan, pra citar alguns. Eles estão simplesmente errados, ponto final. Essa é uma casa bonita como nenhuma outra. Um paraíso perdido. Não somos nós falando isso, mas a revista Vogue não conseguiu controlar sua ansiedade e publicou a casa duas vezes em menos de 6 meses, nos dois lados do Atlântico. A casa é o objeto projetado para se morar mais sexy que você vai ver. O contraste das paredes e da estrutura em concreto bruto, detalhes em madeira e alguns ornamentos arquitetônicos em preto e branco, com o gosto colorido de Sabrina e Ara para a decoração interna, acabamentos e mobiliário fizeram dela uma mistura vintage verdadeira à sua época. Clichê: o ethos fundamental do nosso tempo.

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