AMOR SELVAGEM
CONHECIMENTO BRUTO
À MÃO (LIVRE)
Nós estamos muito além da velha ideia de destacar o novo contra o antigo; qualquer nova ideia agora já é sempre antiga
Era uma vez, nos anos 1980, quando o muro de Berlim parecia que não duraria mais por séculos, um arquiteto brasileiro chamado Paulo Mendes da Rocha projetou um prédio para abrigar apenas objetos que eram, cada um em sua própria forma, o resultado de toda a energia possível para entregar o melhor objeto de design (objetos de desejo!). Ele então se deparou com o problema de projetar uma casa para coisas perfeitas. (Ele tinha que projetar uma casa perfeita?) E então, ele fez. O prédio misturou sua perfeição com a da marca que fez isso possível – o nome da marca: FORMA, que se tornou o nome do prédio, que se tornou o nome-lugar daquele específico topos na capital paulista. Quem batizaria um prédio perfeito de FORMA, quem? Ah, arquitetos! Eles são capazes de cada coisa linda, não são? O prédio da Forma, como ficou coloquialmente conhecido por aqui, provocou de forma perfeita. É um ensaio, ou melhor dizendo, uma ode à arquitetura. Um prédio sem programa que foi construído apenas para ficar de pé. Um prédio egocêntrico (todo feito sob o nome da Forma e da desculpa de que venderiam mobiliário assinado por designers aqui).
Era uma vez, quando a democracia brasileira parecia tentar tomar o holofote central – um tempo de transições, coisa tipo 1984 – e Paulo Mendes da Rocha, de repente, fez uma volta total nas suas tectônicas béton brut para estruturas de metal articulado e concreto, o que era ainda mais radicalmente alegórico que o sonho de construir pontes em todo lugar possível. Abrangendo o infinito. Suas tectônicas mudaram, as tectônicas brasileiras mudaram, e o mundo mudou. O pensamento metafórico estava verdadeiramente no comando. Coisas literalmente começaram a voar. Paulo Mendes da Rocha tomou a cadeira do Niemeyer na mágica e na engenharia de voo brasileiras. Ele foi até a ionosfera. Era uma vez, o prédio lentamente entrou em decadência (enquanto sua estrutura e sua arquitetura, no geral, continuaram a envelhecer muito bem ao adentrar o século XXI). Forma, a marca, deixou a espaçonave e o perfeito objeto de desejo seria descoberto vazio, silencioso e iluminado pela luz natural durante o dia, e pelas luzes da cidade durante a noite; isso quer dizer que o prédio da Forma se encontrou totalmente consigo mesmo. Ele tornou-se finalmente o motivo pelo qual fora projetado: puro nada... pura arquitetura. Entrar naquele prédio com a placa solitária de “aluga-se, vende-se” foi uma aventura sublime. Uma lição de como realmente ser um arquiteto. Mas, para isso, alguém teria que sair da vida real. Uniflex alugou o lugar-nome e começou a sonhar com uma forma de re-formar a Forma (como se isso fosse possível de ser feito).
Era uma vez, em algum momento da vida, quando há de se fazer o impossível: transformar o novo que se tornou velho em um outro novo. Ridículo, não é? Tupi aceitou o desafio de reescrever um lugar-nome como aquele dentro de um lugar chamado de RE-FORMA. Pesadelos apocalípticos subiram no palco. Criticismo duro era o menos esperado. Não telefonar para o velho mestre no seu escritório para pedir por uma ajuda em forma de bênção era algo realmente fora de questão se alguém fosse realmente abordar a tarefa sem pétites politiques. O solo político estava balançando no país, como um primeiro obstáculo real à nossa jovem democracia, por assim dizer. O solo arquitetônico também sob ameaça de fake news no horizonte. Parecia que o Novo finalmente viria. Mas não... Vermelho ainda era uma opção para uma leitura anotada de um texto canônico... Grids eram ainda um aparato para medir e representar realidades em perspectiva... a busca pelos reais elementos estruturais a serem mostrados nus era ainda o melhor jeito de reformar um prédio com essas propriedades ornamentais... e, finalmente, era uma vez, de novo e de novo, minimalismo, a derradeira ferramenta que a história da arte ofereceu à arquitetura para desdobrar objetos, pensados serem absolutos.